O primeiro conceito de arquétipo conhecido data da era neoplatônica, cunhado
por Plotino [1]. Ele acreditava haver um “mundo das ideias”, e que tudo na
Terra seria reprodução dessa “esfera superior”. [2]
No
século XX, o uso da expressão “arquétipo” se popularizou pela psicologia
analítica de Carl Jung [3]. Na teoria de Jung, arquétipo é uma herança
ancestral, presente no Inconsciente Coletivo [4] e “deriva da
observação reiterada de que os mitos e os contos de fada da literatura
universal encerram temas bem definidos que reaparecem sempre
por toda parte.” [5]
Ainda
segundo Jung, o arquétipo existe em si apenas potencialmente e quando toma
forma em alguma matéria, já não é mais o que era antes. Persiste através dos
milênios e sempre exige novas interpretações. Os arquétipos são os elementos
inabaláveis do inconsciente, mas mudam constantemente a forma como se
apresentam. [6]
Por
essa linha de raciocínio, é possível fazermos uma distinção entre o “potencial”
citado pelo autor e a “forma”, noutras palavras, “arquétipo” e “imagem
arquetípica”. Embora de uso frequente na pós-modernidade, o termo “arquétipo” é
comumente confundido com “imagem arquetípica”, representando um desvio
significativo para o entendimento do conceito popularizado.
Portanto,
torna-se importante compreender “arquétipo” e “imagem arquetípica”, como termos
que, apesar de estarem intrinsecamente conectados, demandam ser entendidos de
forma separada.
Nesse
sentido, é possível perceber o arquétipo como uma força energética (psíquica)
matricial amorfa, desprovida de representação, existindo apenas como uma
tendência e possibilidades herdadas pela humanidade para a construção coletiva
de imagens semelhantes. [7]
Analogamente,
é plausível pensarmos no arquétipo como uma semente de uma hipotética árvore
universal senhora de frutos dos mais variados tamanhos, cores e formatos
(imagens arquetípicas), apesar do sabor em comum:
Vejamos um exemplo: o tema mítico do eterno retorno. Vamos encontrá-lo profundamente enraizado nas convicções ingênuas de sociedades primitivas, seguras de que ocorrerá uma volta aos tempos das origens, era de abundância e de felicidade. Vestida em roupagens magníficas, a mesma ideia está incorporada à cosmogonia hindu, com os seus quatro Yugas (períodos) que se desdobram lenta e incessantemente em ciclos perenes, marcados nos seus movimentos de expansão e de declínio por acontecimentos mitológicos sempre idênticos. [8]
Sendo
assim, é presumível compreender que a imagem arquetípica funcione como um
reflexo da matriz energética (arquétipo), desenvolvida em determinados
contextos culturais com roupagens específicas criadas pelos filtros de
elaboração que ali se dispõem. Por exemplo, o arquétipo da sabedoria pode ser
representado, ainda que em parte, como xamã, pastor, monge, eremita (do tarot),
etc. [9]. Sobre esse caminho do arquétipo até se tornar uma imagem arquetípica,
Nise da Silveira - maior referência de estudos junguianos do Brasil - define
que “quando esta energia, em estado potencial, atualiza-se, toma forma, então
teremos a imagem arquetípica.” [10]
Destarte,
conclui-se que, muito embora possamos chegar ao arquétipo através da imagem
arquetípica e que as imagens arquetípicas sejam construídas intuitivamente por
meio dos arquétipos, para efeitos didáticos e de compreensão mais profunda do
tema, os fenômenos devem ser observados como distintos. Ou seja, o arquétipo
como fonte intangível e a imagem arquetípica como fragmento simbólico deste
manancial.
*Vânderson Domingues é orientador filosófico, escritor, compositor e poeta. Graduado em Filosofia e pós-graduado em Clínica Existencialista Sartriana.
**Texto publicado originalmente em 2013.
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REFERÊNCIAS:
[1]
"Plotino", Wikipedia. Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Plotino>.
Acesso em: 20 mar. 2013.
[2]
SANTANA, Ana Lucia. Arquétipos. Disponível em
<www.infoescola.com/psicologia/arquetipos>. Acesso em: 20 mar. 2013.
[3]
"Carl Gustav Jung", Wikipedia. Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Carl_Gustav_Jung>.
Acesso em: 20 mar. 2013.
[4]
"Inconsciente coletivo", Wikipedia. Disponível em
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Inconsciente_coletivo>. Acesso em: 20 mar.
2013.
[5]
JUNG, Carl Gustav. “Memórias, Sonhos e Reflexões”. Editora Nova Fronteira,
2006.
[6]
"Arquétipo", Wikipedia. Disponível em
<pt.wikipedia.org/wiki/Arquétipo>. Acesso em: 20 mar. 2013.
[7],
[8], [9] SILVEIRA, Nise da. Jung: vida e obra, Rio de Janeiro: José Álvaro, Ed.
1981, p. 77-78.
[10] "Imagem Arquetípica", Wikipédia. Disponível em pt.wikipedia.org/wiki/Imagem_Arquetípica>. Acesso em: 20 mar. 2013.